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Galvani e a comunidade Angico dos Dias: Os dois lados da mesma moeda

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Angico dos Dias é um povoado que pertence ao município de Campo Alegre de Lourdes na Bahia e tem aproximadamente 1000 habitantes. Um de seus primeiros moradores, a senhora Ediva Alves de Souza Bastos de 72 anos, faz parte da história do povoado e nos relatou o antes e o depois da instalação da mineradora Galvani.

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Dona Ediva com o esposo – Foto reproduzida da internet
De acordo com Ediva, antes da fábrica a população vivia razoavelmente bem. Apesar das dificuldades que se enfrentava no período de escassez de chuvas, não havia poluição, nem problemas respiratórios. Com a chegada da Galvani muita coisa mudou de forma negativa e positiva.

A Unidade de Mineração Galvani instalou-se no povoado em 2002 e começou a funcionar efetivamente em 2005, com o objetivo de extrair fosfato do subsolo para em seguida ser levado a Luís Eduardo Magalhães, e transformar-se em fertilizante (nutriente para as plantas).

Com a chegada da empresa na comunidade, a principal fonte de água (a lagoa) foi afetada, conforme descreveu a senhora Ediva:

“Quando eles chegaram puseram os banheiros perto da lagoa. A gente ficou sabendo que toda aquela sujeira dos banheiros foi pra dentro da lagoa. A gente bebia daquela água. Mas depois disso, a água ficou estranha com uma cor avermelhada”.

A moradora também revelou que muitos trabalhadores tiveram de vender suas terras na promessa de conseguirem serviço na Mina. Alguns conseguiram. Outros, além de ficarem sem suas terras para cultivarem, não foram contratados pela fábrica.

Ediva falou que a quantidade de trabalhadores na Galvani que mora no Angico, é bem menor que a quantidade dos que residem na cidade vizinha, Caracol no Piauí.

“Eles deviam dar mais oportunidade para quem mora aqui no povoado”, desabafou.

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A assessora de comunicação do grupo Galvani, Monica Camargo, contestou algumas informações e disse que a mesma quantidade de trabalhadores reside nas duas localidades, 80 em Angico e 80 no Caracol.

Sobre a contaminação da lagoa, a assessora disse que durante as obras a Galvani aprofundou a fonte, e que diante desse fato, possibilitou a lagoa ser a única da região que fica com água o ano inteiro.

“Não foi nossa chegada que tornou aquela lagoa imprópria para o consumo humano. Muito antes da Galvani, e até hoje, todos os bichos se banhavam e defecavam naquela água. A Galvani doou ao povoado uma caixa d´água e dar manutenção na bomba que a abastece”, esclareceu Monica.

Outro morador da localidade, o professor Ronaldo Nunes, que está preparando um relatório sobre a mineradora, para ser enviado às autoridades competentes, disse que a água é poluída e que os poços artesianos que tem na mineradora, não são liberados à comunidade e o poço que abastece ao povoado foi aberto e instalado pela prefeitura local. Nunes também descreve em seu relatório que a água não chega a todas as casas, e que é preciso pagar uma taxa a determinada pessoa para ligar a bomba, pois a água chega dia sim e dia não. Aonde a água não chega, é preciso pegar na lagoa pra tomar banho e lavar roupa.

“Esta água é muito gordurosa”, reforçou Ronaldo.

Ainda segundo o relatório, o aprofundamento da lagoa citado pela Galvani, se deu num período de seca, e a escavação foi feita para aproveitar o barro do local que serviria de apoio à instalação da fábrica.

As terras

Ronaldo conta que no ano de 2002, quando a mineradora chegou ao povoado, comprou as terras por um preço muito baixo, entre R$ 200 a 5 mil reais, e que às vezes os proprietários das terras eram amedrontados para que vendessem, caso contrário, o Governo tomaria.

“Desmataram tudo que tinha ao seu alcance, invadiram um terreno ao lado e pegaram toda a piçarra pra colocarem na extensão de 12 quilômetros, ou seja, de Angico dos dias à cidade vizinha, Caracol no Piauí, onde os chefes e empregados se instalaram, pois os mesmos não ficaram no povoado, só vinham trabalhar”, enfatizou Nunes.

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Sobre a questão ambiental a assessora do grupo Galvani reconheceu que a mineração traz impactos ao meio ambiente. Contudo, afirmou que a empresa tem controle sobre todos os aspectos ambientais e não faz nada que extrapole o permitido pela lei. De acordo com sua colocação, a mineradora não faz novos desmatamentos há muito tempo. Desmatou-se no passado (com licença ambiental), apenas a área onde hoje mineram e já plantaram mais árvores do que as que derrubaram. “Existe o monitoramento da qualidade do ar constantemente. Não existe dificuldade de respirar”, completou.

Mônica ainda revelou em detalhes, como foi o início da instalação da fábrica para extrair o minério da jazida:

“A jazida de fosfato de Angico dos Dias já era conhecida, mas não podia ser explorada porque não havia água na região. Não havia empresas interessadas em investir ali. A Galvani então, desenvolveu uma tecnologia de processamento do minério que não usa água, o que viabilizou economicamente o negócio. O desafio seguinte foi levar o mínimo de infraestrutura para a região. O empreendimento então viabilizou com o governo estadual a chegada de energia elétrica de qualidade ao povoado. Antes eles usavam uma energia fraca, que vinha de Caracol (PI) e ficavam frequentemente no escuro. As estradas de acesso ao povoado eram extremamente precárias. Os moradores levavam muitas horas para ir até a sede no município (Campo Alegre de Lourdes). As máquinas da Galvani deixaram as estradas muito melhores”.

Já para Nunes em seu relatório, o reflexo ambiental foi mais impactante:

“Houve uma degradação total do meio ambiente, barulho imenso de máquinas durante 24 horas, e muita sujeira sendo lançada na lagoa; com tudo isso veio os problemas respiratórios, gripes frequentes, pois foi uma mudança muito rápida em nosso meio. As promessas de emprego para a comunidade principalmente para os ex-donos de terra ficaram apenas nas promessas. O pior foi quando começaram a explorar os minérios, pois a poluição aumentou gradativamente com um barulho enorme de carretas passando no meio da rua dia e noite, sendo que foram comprando terras nos povoados vizinhos para tirarem madeira pra serem queimadas, pois existe um secador rotativo, que possui um gerador de calor chamado de fornalha movido à lenha, que chega uma temperatura muito elevada. Todos os dias chegam dois caminhões de madeira na mineradora, vindo de cidades do Piauí como Caracol, Anísio de Abreu, Jurema, Várzea Branca, São João do Piauí, São Brás; o Botinha Empreendimentos compra a madeira nessas cidades e vende pra Galvani, ficando uma devastação imensa. A poluição vai se tornando maior a cada dia que passa. Os rejeitos (Restos de mangueiras dos filtros de poeira) são empilhados onde pertence a mineradora, e impedem a passagem das aguas das chuvas para a lagoa. Nesse mesmo lado de terras, não se pode plantar mais”.

A detonação

A Galvani realizou duas detonações na jazida de Angico dos Dias utilizando explosivos. A primeira aconteceu no início do mês de junho, e outra no dia 16 de julho. De acordo com a descrição de alguns moradores, as explosões causaram danos à comunidade, tanto psicologicamente como do ponto de vista estrutural de algumas casas que chegaram a ficar com algumas rachaduras, devido ao impacto, e algumas cisternas também foram afetadas.

A senhora Ediva descreveu a reação dos moradores:

“O povo ficou assombrado de um jeito…sem saber se era algum terremoto ou outra coisa parecida. As casas estremeceram. No momento da explosão ficou todo mundo parado esperando que era a hora de morrer”

A Galvani disse à nossa redação que o tanto de explosivos utilizados na mina, foi o permitido por lei.

Foi emitida a seguinte nota sobre o caso:

“A Galvani esclarece que o desmonte é uma forma de extrair o minério da jazida com explosivos, procedimento normal no setor de mineração. Na jazida de Angico dos Dias, normalmente apenas a escavadeira já consegue extrair o minério, mas quando é encontrada alguma parte mais dura, recorre-se aos explosivos para extrair o material. A empresa reitera que novamente o procedimento foi realizado conforme a lei, realizando antecipadamente as devidas comunicações, além de estar de acordo com todas as autorizações necessárias. A empresa reitera que quantidade de explosivos usada no desmonte de julho, assim como o ocorrido no mês anterior, foi pequena e monitorada, e que o relatório do sismógrafo (Aparelho que detecta os movimentos do solo) apontou que o procedimento ocorreu dentro dos padrões. Neste ano, não há mais previsão de desmontes em Angico dos Dias. Antes de realizar a detonação, informamos as autoridades competentes e aos funcionários (50% deles são moradores do povoado). Dessa maneira, acreditamos ter feito uma comunicação adequada sobre o tema. Mantemos relacionamento frequente e contínuo com a comunidade local e não registramos reclamações de que nossa detonação causou danos nem rachaduras nas casas ou cisternas. Fizemos inclusive uma explicação sobre o desmonte em uma das edições semanais de nosso programa de rádio. Ainda assim, se os moradores quiserem nos informar de alguma situação ambiental ou esclarecer alguma dúvida, podem ligar gratuitamente para nossa Linha Verde, que funciona de 2ª a 6ª feira, das 8h às 17h, no telefone: 0800 020 1541”.

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O Instituto Lina Galvani

A moradora Ediva reconhece também, que a mineradora trouxe coisas boas para o povoado, como por exemplo, as atividades desenvolvidas pela rede social. Contudo, ela admite que esperava mais da fábrica no povoado. “Todo ano é arrecadado muito imposto da Galvani. Esse dinheiro vai para a prefeitura, mas a gente não ver nenhuma aplicação do mesmo em nossa comunidade”, afirmou.

A assessoria da Mineradora descreveu o trabalho do Instituto:

“O Instituto Lina Galvani (ILG) vem desde 2009 capacitando e mobilizando moradores para que desenvolvam projetos para o bem da comunidade. Veja tudo o que já foi conquistado pela comunidade a partir dos trabalhos do Instituto:

Criação da Associação de Moradores de Peixe, Angico e Região (AMPARE);

Instalação de uma caixa d’água, duplicando o fornecimento de água para os moradores;

Doação de um trator através de projeto enviado à CAR (Companhia de Desenvolvimento Ação Regional), contribuindo para a mecanização agrícola da região;

Realização de 2 km² de calçamento na principal via do povoado;

Instalação de 53 cisternas para captação de água de chuva no povoado, possibilitada por meio de um projeto escrito pela Associação de Moradores e aprovado junto à CAR (Companhia de Desenvolvimento Ação Regional);

Constituição da Rede Social de Angico, Peixe e Região, após uma capacitação oferecida pelo ILG. A rede conta com cerca de 30 membros e já desenvolveu mais de 6 projetos: Construção da Praça São José, Resgate histórico-cultural, Diversão não tem idade, Geração de Renda, Inclusão digital e Adesão à coleta seletiva;

O projeto Diversão não tem idade, com objetivo de promover interação e lazer para as pessoas da 3ª idade, realizou três encontros, reunindo cerca de 70 pessoas cada.

Realizada a primeira etapa do projeto Geração de Renda, com levantamento das vocações e nichos de mercado locais e formação de quatro grupos que darão origem a negócios inclusivos: agricultura, produção de doces, artesanato e beleza (cabeleireiro e manicure).

Doação de 300 filtros de barro para  a comunidade (para evitar as verminoses).

Início do projeto de Resgate Histórico-Cultural, com realização de oficina de fotografia, resultando no calendário da Galvani/ILG de 2014.

Construção da Praça São José em mutirão comunitário contando com o apoio de cerca de 90 parceiros – entre estabelecimentos comerciais e pessoas físicas de Campo Alegre de Lourdes e Caracol – e a participação ativa de mais de 230 pessoas.

A iniciativa mais recente do Instituto é um projeto de melhoria da gestão pública através da capacitação de servidores do município. Isso será assinado em breve com a prefeitura de Campo Alegre de Lourdes”.

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Ainda sobre o Instituto, o relatório do professor Ronaldo Nunes ressalta algumas controvérsias:

“A Galvani em si, criou com alguns membros da comunidade uma associação, onde a minoria é beneficiada, pois se alguém precisa carregar areia, água, madeira, arar terra é preciso pagar. Foi criada também uma rede social onde iludem muitos a trabalharem de graça, onde tem até uma horta que dali é vendido o que é colhido do que se planta, e ninguém sabe para onde vão os recursos”, contestou.

Filtros de manga ou pulse jet (Aparelho usado para conter a poeira)

Conforme Nunes, quando os filtros estouram, passam até 120 dias pra colocarem outro.

O setor de comunicação da empresa negou,

“Não há como operarmos nosso sistema sem a utilização dos filtros. Dessa maneira, não procede a informação. Tal procedimento representaria o mesmo período de paralisação de todo o sistema”.

A assessoria ainda esclareceu que o carregamento de produtos é feito das 7h da manhã às 3h da tarde, respeitando integralmente as leis vigentes sobre o tema e respeitando a comunidade local.

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Conclusão

Ronaldo concluiu em seu relatório, que representantes da mineradora continuam batendo nas portas de quem ainda possui terras, tentando comprar a qualquer custo.

“Vão arrancar todo o recurso da terra, e deixar a destruição total. Poucos se preocupam com as futuras gerações, não sei o que  restará para elas. Antes tudo era plantado, zelado, colhido e guardado para o alimento. O restante era vendido; hoje tudo mudou”, finalizou Nunes.

O sistema de comunicação do grupo Galvani representado por Monica Camargo, fez um balanço:

“A extração de fosfato pela Galvani em Angico dos Dias começou faz 10 anos, em 2005, e os estudos realizados até o momento indicam que as jazidas têm minério para pelo menos mais 50 anos. Novos estudos podem revelar outras reservas. Ou seja, a unidade permanecerá ativa por muitos anos e, aliado ao seu trabalho de responsabilidade socioambiental, deixará um legado positivo para toda a região”.

Fonte Blog Josué Mariano

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