
O governo brasileiro investe na conservação da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) desde a década de 1990, executando ações de pesquisa e conservação na área natural de distribuição da espécie e coordenando os esforços de conservação ex situ para restabelecimento da população na natureza.
Considerando que não há população viável de ararinhas-azuis na natureza, os exemplares que se encontram sob cuidados humanos são a única esperança para sua restauração, sendo indispensável que o Estado brasileiro atue com responsabilidade e cautela, buscando o equilíbrio entre a necessidade de manutenção da população ex situ a longo prazo e o desejo de avançar nas solturas de ararinhas-azuis na natureza.
No cenário atual, todas as medidas tomadas pelo Brasil têm como premissa a defesa do interesse público pela conservação da espécie. A ocorrência de circovírus dos psitacídeos em alguns indivíduos de ararinhas-azuis em Curaçá gerou a necessidade de ação imediata dos órgãos ambientais envolvidos, tanto a nível federal quanto a nível estadual, buscando medidas que permitam conter a disseminação do vírus tanto nas populações de ararinhas-azuis quanto naquelas de outros psitacídeos brasileiros que ocupam a região, uma vez que pouco se conhece sobre suas possíveis consequências, sendo necessária cautela.
O circovírus dos psitacídeos é um patógeno potencialmente perigoso para estas aves e cuja ocorrência em populações de natureza do Brasil – embora investigada em diversos locais – nunca foi relatada ou comprovada até este evento. Qualquer declaração contrária sem embasamento científico é leviana e irresponsável.
A detecção do vírus em exames é dificultada por fatores como intermitência da eliminação viral pelas aves infectadas (a ave pode conter vírus em seu organismo, ainda que não esteja eliminando para o exterior no momento do exame), tipo de amostras coletadas, forma de coleta e armazenamento das amostras e tipo de exame realizado.
A ocorrência de falsos-negativos nos resultados torna o cenário complexo, o que gera a necessidade de cuidados extras, como a realização de uma bateria de exames individuais, com amostras diversificadas antes que se possa concluir sobre o estado sanitário de um exemplar ou de uma população, razão pela qual resultados negativos isolados não são suficientes para indicar que o vírus não esteja presente.
A situação é desafiadora tendo em vista o pouco conhecimento existente sobre a dinâmica de infecção e patogênese do circovírus de psitacídeos em animais de espécies brasileiras. Além disso, há a necessidade de equilíbrio entre a proteção da população de ararinhas-azuis e das populações nativas de psitacídeos brasileiros, incluindo outras espécies ameaçadas que podem ser afetadas, como a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari).
As medidas para contenção do vírus estão em constante discussão e vêm sendo revistas de acordo com as mudanças de cenário e a chegada de novas informações. Especialistas e pesquisadores renomados vêm sendo consultados e têm apoiado o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) nas tomadas de decisão. Ainda que alguns protocolos indiquem a necessidade de eutanásia de animais positivos, o ICMBio vem buscando avaliar todas as alternativas possíveis.
Projetos de translocação para conservação (como a reintrodução das ararinhas-azuis) enfrentam grandes desafios e necessitam de estratégias que evitem prejuízos ainda maiores para a espécie ou para seu ambiente. Estas estratégias podem levar ao recolhimento de indivíduos liberados em etapas anteriores, o que não define o fim do projeto ou a extinção da espécie. São medidas necessárias para sua proteção a longo prazo que, feitas de forma responsável, favorecem a conservação.
As comunidades locais vêm sendo informadas sobre esta situação crítica, bem como sobre a estabilidade que a existência de um esforço coordenado de conservação traz para a região.
No momento, não é possível qualquer afirmação responsável em relação à origem do circovírus presente em Curaçá, tendo em vista que isto requer estudos adequados e consistentes. No momento, a prioridade do Estado brasileiro é o combate à disseminação do vírus. Contudo, tal identificação é importante no contexto da conservação, buscando-se aprimorar os protocolos e os procedimentos exigidos para o manejo populacional de espécies ameaçadas e evitar que outras situações semelhantes ocorreram no futuro.
Comunicação ICMBio



 
		