Após dois anos de ajuste fiscal e contenção da inflação, presidente enfrenta o desgaste do aumento do custo de vida entre os argentinos

Por Carolina Marins, do Estadão
Ao vencer as eleições na Argentina em 2023, Javier Milei prometeu reconstruir o país e “o começo de uma nova era”. A receita para isso foi um pesado ajuste fiscal nas contas do governo e uma diminuição do tamanho do Estado argentino. Agora, ele terá nas eleições legislativas no fim desta semana o teste de fogo de sua gestão, que completa dois anos em dezembro.
O Estadão retornou ao país vizinho para medir o impacto da agenda de Milei em diversos setores sociais e econômicos: aposentados, produtores do agronegócio, estudantes e professores de Universidades públicas, turistas, organizações sociais, economistas e cientistas políticos.
Entre eles, há um consenso. O plano de Milei para corrigir anos de uma crise econômica cíclica teve pontos positivos e negativos.
É possível dividir a gestão em duas fases. A primeira, na qual ele avisou que aplicaria medidas dolorosas de contenção de gastos e pediu paciência aos argentinos, foi exitosa. A economia ganhou estabilidade, a inflação — o grande fantasma argentino — foi contida e o risco-país melhorou.
Então veio a segunda fase. O aumento do custo de vida afetou duramente as classes baixas e médias, que começaram a perder a paciência com o governo, já que não viam em seu dia a dia o resultado prático dos bons dados econômicos.
Isso passou a ter um custo político para o presidente, que se viu castigado nas eleições legislativas da província de Buenos Aires, onde seu partido perdeu por 14 pontos percentuais para a oposição peronista.
Preços que pararam de subir
Segundo o economista Juan Manuel Telechea, o controle dos preços é o maior feito de Milei à frente da Casa Rosada. Quando o presidente assumiu o cargo, a Argentina tinha, em média, uma inflação de 10% ao mês e quase 200% ao ano. Era o maior índice do mundo, pior inclusive que o da Venezuela.
Para domá-lo, o libertário colocou em jogo todo seu capital eleitoral. Ele havia sido eleito com mais de 11 pontos de vantagem para Sergio Massa, e já no discurso de posse foi honesto: as coisas iam piorar antes de melhorar. Não havia dinheiro. Foi isso que lhe permitiu implementar um plano tão duro.


