
A compra anunciada pelo governo federal, de açaí, uva, água de coco, mel, manga, pescados e castanhas trouxe um certo alívio aos produtores do Nordeste afetados pelo aumento das tarifas dos Estados Unidos. Estes produtos têm uma taxação de 50% para ingressar naquele país. “É uma ação interessante. O governo federal tenta fazer o que pode. Os volumes são grandes. Vamos ver como será a logística”, comenta o presidente da Associação dos Exportadores do Vale do São Francisco (Valexport), José Gualberto.
Formado por seis municípios – sendo três em Pernambuco e três na Bahia -, o polo de frutas irrigadas do Vale do São Francisco é um dos grandes exportadores do país, vendendo principalmente manga e uvas ao exterior. A janela de exportação de mangas para os Estados Unidos começou na segunda quinzena de agosto. A Valexport representa 14 grupos – que reúnem produtores de vários portes – que exportam para os Estados Unidos.
“Não tem como parar o que já está indo para os Estados Unidos. No entanto, a manga vai ficar mais cara lá e quem vai pagar por isso são os importadores, o que nos leva a crer que eles vão comprar menos”, explica Gualberto, acrescentando que o importante é o governo agir. Ele também considera que, num momento como o atual, linhas de crédito são fundamentais para ajudar os produtores.
Inicialmente, a expectativa dos produtores do Vale era de exportar 48 mil toneladas de manga para os Estados Unidos. Com o tarifaço, esse montante poderá cair para 13 mil toneladas, segundo informações do gerente da Valexport, Tássio Lustosa.
A inclusão da manga, uva e açaí nos procedimentos emergenciais para compras públicas foi um dos pedidos da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) que “recebeu com satisfação” a Portaria Interministerial MDA/Mapa nº 12 que estabeleceu os procedimentos para a futura aquisição destes alimentos afetados pela taxa de 50% imposta pelos EUA às exportações brasileiras.
Os produtos serão adquiridos sem necessidade de licitação e serão usados na merenda escolar de instituições públicas de ensino, hospitais, restaurantes universitários e para as Forças Armadas. A medida já está valendo e não tem data para terminar. Os alimentos serão comprados com o orçamento já disponível nos programas de alimentação escolar (PNAE), de aquisição de alimentos (PAA) e de compras institucionais. A lista dos alimentos foi publicada no Diário Oficial da União.
O diretor executivo da Abrafrutas, Eduardo Brandão, disse que a portaria será “um alívio” para os produtores, especialmente os pequenos. E continuou: “Desde a publicação da tarifa pelos Estados Unidos, temos trabalhado para que o governo adote medidas concretas de mitigação. A inclusão de manga, uva e açaí no plano de contingenciamento é uma vitória do diálogo e ajuda a proteger diversos produtores, especialmente os pequenos, que agora terão mais segurança para atravessar este momento de crise”.
O gerente comercial da Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Ápis), Wellington Dantas, comentou que a medida representa um “alívio inicial” para o setor. “É uma ajuda muito bem-vinda. Estamos começando a entender essa demanda interna ainda. É cedo para avaliar os impactos de forma ampla, mas é uma excelente iniciativa do governo. Esperamos que até amanhã tenhamos mais clareza”, destacou.
Em 2024, a Casa Ápis exportou mais de 1.800 toneladas de mel, sendo que mais de 95% do faturamento da cooperativa veio da demanda dos Estados Unidos. A expectativa para este ano seria repetir os números, já que, apesar do anúncio de tarifas adicionais, os contratos com importadores norte-americanos foram mantidos.
Depois do tarifaço, Dantas considera importante ampliar a presença do produto no mercado interno. “Não acredito que iremos absorver todo esse volume de 95% dentro do Brasil, mas se conseguirmos passar de 5% para 15% ou 20%, será um avanço extraordinário”, argumentou. Entre as novas estratégias, a Casa Ápis já está em negociação com o governo do Piauí para fornecer mel a mais de 600 escolas estaduais, ampliando o consumo interno e fortalecendo a cadeia produtiva regional.
Segundo Dantas, a maior preocupação da cooperativa está voltada para o próximo ano, quando ocorrerá a principal safra de mel da região. Atualmente, o Nordeste responde por cerca de 40% da produção nacional de mel e 80% das exportações brasileiras deste produto têm como destino os Estados Unidos.
Fonte: Folha Pernambuco

