Putin sabe que não pode derrotar a Otan em uma luta direta

Drones na Polônia; caças MiG atravessando o espaço aéreo da Estônia; cabos de telecomunicações danificados nas profundezas do Mar Báltico; aeroportos paralisados por ataques cibernéticos e quadricópteros; explosões e assassinatos misteriosos; enxames de bots espalhando propaganda para atrapalhar as eleições: nenhum desses fatos, por si só, é um casus belli, mas juntos eles estão se somando a algo novo e perigoso. Vladimir Putin está travando uma campanha na zona cinzenta contra a Otan: um esforço barato, possível de ser negável e calibrado para desestabilizar a Europa, que cuidadosamente evita um conflito aberto. “Não estamos em guerra”, disse o chanceler alemão, Friedrich Merz, esta semana. “Mas também não estamos mais em paz”.
Os danos nunca foram graves, então qual é o objetivo? Putin sabe que não pode derrotar a Otan em uma luta direta, mas seu objetivo, dada a amplitude de seus escritos e discursos, é mais do que apenas ser um incômodo. Ele está tentando alcançar três coisas, e precisa fracassar em todas elas.
Primeiro, Putin pretende quebrar a unidade da Otan. Seu objetivo é fazer com que os europeus duvidem uns dos outros e, em particular, questionem o compromisso dos Estados Unidos com a aliança que criou em 1949. Ele pretende semear a suspeita de que o Artigo 5º, que trata um ataque a um como um ataque a todos, não é confiável; e, eventualmente, afastar completamente os Estados Unidos da Europa. A Otan, como Putin frequentemente afirma, está empenhada em desmembrar a Rússia; portanto, ela mesma deve ser destruída por dentro.
Na virada do século, os Estados Unidos eram mais poderosos do que todos os seus inimigos e amigos juntos. Osama bin Laden deu início ao desmoronamento. Seu ataque às torres gêmeas em 2001 levou os Estados Unidos a se envolverem excessivamente no Afeganistão e no Iraque, provocando uma reação negativa no país contra os compromissos externos. Os governantes da China sonham com uma saída americana semelhante do Leste Asiático. É por isso que Xi Jinping também está usando incursões na zona cinzenta para fazer Taiwan se sentir vulnerável — e para lançar dúvidas sobre o compromisso dos Estados Unidos com seus parceiros asiáticos. Com seu descuido pela ordem de segurança que sustenta o mundo desde 1945, Donald Trump está facilitando a tarefa de Xi.
O mesmo se aplica à Europa. A resposta de Trump à incursão de drones na Polônia foi dizer que “pode ter sido um erro”, embora fosse necessária uma demonstração de solidariedade. Não é difícil relacionar essas palavras com a violação do espaço aéreo da Estônia por três MiG-31 dez dias depois. Trump precisa enfatizar seu compromisso com a ação militar na Europa, se necessário. Se sabotagens e violações do espaço aéreo forem ignoradas como rotina, a dissuasão se tornará um assunto para debate — e, uma vez debatida, será enfraquecida.
O segundo objetivo de Putin diz respeito à Ucrânia. Sua ofensiva de verão fracassou, então ele quer aumentar o custo para os países europeus que apoiam o Exército ucraniano. O foco dos ataques na zona cinzenta tem sido os países que são seus maiores apoiadores. Polônia, Estônia e Dinamarca sofreram incursões de drones, interferência em GPS e sabotagem. A Alemanha enfrentou ataques cibernéticos a suas empresas de defesa e logística. A Moldávia e a Romênia, como países da linha de frente, tiveram suas eleições interferidas — em ambos os casos sem sucesso, o que mostra que Putin nem sempre consegue o que quer. Sua mensagem aos eleitores e políticos é direta: em vez de enviar armas para a Ucrânia, vocês deveriam se concentrar em apaziguar a Rússia ou em se defender.
Por The Economist


