
Endossada por ala do Planalto, proposta virou motivo de briga dentro do partido, que agora tenta corrigir a rota
Pegou mal para dentro e para fora a decisão tomada na semana passada pelo governo Lula, que liberou a base na Câmara na votação da PEC da Blindagem. O presidente até fez circular que, pessoalmente, era contrário à proposta, que dificulta o avanço de investigações contra parlamentares.
Na prática, entretanto, ninguém no governo ou no partido do presidente impediu que 12 deputados petistas votassem a favor da PEC.
O assunto já vinha rendendo brigas dentro do PT. Ali, uma ala gritava contra a PEC. Outra dizia que era necessário fazer um aceno ao Centrão, num acordo pelo qual o partido entregaria alguns votos a favor da blindagem em troca de ajuda para barrar a anistia e fazer andar a agenda do governo.
Nada ali saiu como a turma do pragmatismo esperava. Acreditava-se em alguns setores do Planalto que a ideia de estancar a movimentação pela anistia e dar celeridade à pauta eleitoral de Lula seriam argumentos suficientemente fortes para fazer a PEC da Blindagem descer goela abaixo. Não deu certo.
O que não falta neste momento é deputado governista jogando esse desgaste na conta da ministra Gleisi Hoffmann, das Relações Institucionais, e do presidente da Câmara, Hugo Motta. Fala-se em erro de cálculo. E em fragilidade da articulação política.
Tem até quem diga que o episódio deixou saudades dos tempos de Arthur Lira (PP-AL). Na visão de um deputado influente no PT, Lira jamais permitiria que um tema tão polêmico fosse a voto sem que estivesse muito bem amarrado no Senado. O ex-presidente da Câmara, prosseguiu o deputado, não deixava a Casa como o “patinho feio”.
No PT, em especial, ficou difícil explicar os votos 12 votos a favor da PEC no primeiro turno de votação. Para o comando do partido, ficou a missão de corrigir a rota e reverter o prejuízo. Nos bastidores, deputados agora se queixam do tal acordo com o Centrão e dizem terem sido expostos ao vale-tudo.
Quem votou a favor da PEC da Blindagem tentou se explicar. Quem votou contra quis gritar aos quatro ventos, aumentando ainda mais o constrangimento dos colegas que abraçaram o acerto.
E o que se viu nas últimas 24 horas foi um PT envergonhado determinado a virar a página. Líderes do partido subiram no carro de som nas manifestações do último domingo, com críticas frontais à PEC da Blindagem e à anistia. Daqui para frente, garante a cúpula do PT, a posição é clara: “Está decidido. Nós fechamos questão”, disse à CNN o presidente da legenda, Edinho Silva, adiantando que o partido exigirá de todos os seus senadores voto contrário à proposta.
Ex-presidente do PT e quadro histórico da legenda, o deputado Rui Falcão (SP) deixa um recado para o caso de acordos como o da PEC da Blindagem se apresentarem novamente à bancada do partido na Câmara: “Eu votei contra. E, se vier algum outro acordo desse tipo, vou votar contra de novo”, disse o parlamentar à CNN.
Fonte: CNN Brasil


