
Ex-presidente do Comitê Brasileiro da Anistia na Bahia, Joviniano Neto afirma que a proposta atual é “profundamente diferente” da de 1979, por buscar favorecer acusados de tentativa de golpe de Estado
O cientista político baiano Joviniano Neto, ex-presidente do Comitê Brasileiro pela Anistia na Bahia, comparou a atual PEC da Anistia com a lei de 1979 e classificou a proposta aprovada na Câmara como “profundamente diferente”. Em entrevista, ele destacou que, ao contrário da anistia concedida às vítimas da ditadura militar, a medida em discussão hoje busca beneficiar acusados de tentativa de golpe de Estado, muitos ainda sem condenação definitiva. Neto avaliou que a proposta reflete a força da bancada bolsonarista no Congresso, fruto das eleições de 2022 e do fortalecimento do Legislativo com o orçamento secreto. Sobre a condenação de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal, afirmou que o resultado era previsível diante do histórico de ataques à democracia desde 2019. Para o cientista político, o ex-presidente “plantou ventos e colheu tempestade”. Em relação às eleições de 2026, Neto ponderou que Tarcísio de Freitas é um nome forte, mas seu vínculo com Bolsonaro pode afastar votos moderados, além do risco de abandonar o governo paulista antes do fim do mandato.
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Tribuna – Como o senhor vê essa PEC da Anistia, cuja urgência foi aprovada pela Câmara?, Acha que ela pode passar no Senado?
Joviniano Neto – É uma coisa irônica, porque eu fui presidente do Comitê Brasileiro da Anistia, da Bahia. E nós lutávamos na época por anistia ampla, geral e irrestrita, que terminou não saindo. Saiu a anistia limitada e, por isso, nós continuamos a luta até hoje, até para o Supremo Tribunal Federal rever uma interpretação errada que ele fez da lei de 79, que, a partir de uma interpretação, considerou os torturadores como beneficiários da anistia ampla. Então, a anistia ampla, geral e irrestrita foi o foco de uma campanha muito importante e foi fundamental para acelerar a redemocratização do Brasil, ainda que tenha saído incompleta. Mas essa anistia que estão dizendo agora, que é também ampla, geral e irrestrita, usando o mesmo slogan, é uma anistia profundamente diferente.
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Tribuna – Em quê?
Joviniano Neto – É uma anistia que vem antes da condenação de muitos – embora já haja algumas condenações do 8 de Janeiro –, mas vem antes da condenação de muitos. E não é anistia para as vítimas. Na minha visão, não é anistia para as vítimas de uma ditadura, como era a de 79. Em 79, as pessoas foram perseguidas, presas, forçadas ao exílio, demitidas pelo regime militar. E terminou atingindo e consolando um pouco os familiares dos desaparecidos, que até hoje lutam para esclarecer os desaparecimentos. Então, era a anistia das vítimas, de pessoas que tinham lutado contra a ditadura, e é uma tradição desde o liberalismo o direito de lutar contra a tirania. E eram pessoas que já tinham pago o preço: já tinham sido presas ou estavam presas quando saiu a anistia, tinham sido demitidas, torturadas, pagado um preço pelo que era considerado crime pela ditadura.
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Tribuna – E a anistia que se defende agora?
Joviniano Neto – Então, essa ideia de anistia, primeiro, é antecipada. Está escrito: anistiar uma série de pessoas antes até da condenação. Agora, com o Bolsonaro, já foi condenado o núcleo policial do golpe e ainda tem algum recurso, mas a condenação está definida. Os outros acusados ainda estão em processo. É uma anistia não para vítimas das violências políticas, mas para os autores de uma tentativa de golpe, que seria uma grande violência política. É claro que os bolsonaristas estão achando que eles estão sendo vítimas – vítimas do Judiciário, vítimas da ação da Polícia Federal, coisa desse tipo. Mas essa proposta começou a ser falada intempestivamente, quando nem havia ainda a condenação. É uma anistia que pretende virar uma página e tornar inimputáveis crimes que ainda estão sendo julgados ou que nem foram julgados. Anistia não é esquecimento. Anistia é inimputabilidade: aquele fato ocorreu, mas nós consideramos que não tem mais efeitos penais.
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Tribuna – Governo federal está enfraquecido, porque nem conseguiu barrar esse projeto que foi votado no Congresso?
Joviniano Neto – Olha, isso aí é uma decorrência do fato de ser um governo minoritário e do resultado da eleição de 2022. O grupo conservador e até o grupo bolsonarista não conseguiu, pela primeira vez na história, eleger o presidente – em grande parte pelo próprio comportamento do presidente. Mas elegeu uma grande bancada. Então, o partido do PL ficou com a maior bancada, muitas pessoas se beneficiaram da abertura que Bolsonaro fez para o uso de verbas. Ele transferiu grande parte do poder de fazer as coisas para o Congresso, criou uma espécie de parlamentarismo camuflado. Então, o resultado das eleições de 2022, que elegeu uma bancada forte bolsonarista, somado ao hábito que o Congresso tomou de ampliar o seu poder utilizando as emendas, criaram uma base conservadora e corporativamente protetora no Congresso. E, como no Brasil as pessoas votam diferente para presidente e para deputados – você vota no presidente achando que ele vai ajudar o Brasil, e vota no deputado esperando mais alguma coisa para sua região, para o seu povo –, nós temos essa dicotomia antiga entre a posição do presidente e a do Congresso. Só que agora essa dicotomia está maior. O Congresso estaria confortável em um segundo governo Bolsonaro, mas a população rejeitou Bolsonaro pelas suas características e comportamento pessoal.
Tribuna – E o julgamento de Bolsonaro, que foi inclusive um dos motivadores? O senhor acha que foi equilibrado? Esse julgamento pode aumentar o tensionamento da conjuntura política daqui para o ano que vem?
Joviniano Neto – Era previsível. Eu posso, às vezes, questionar algum resultado em relação à dimensão das penas atribuídas a algumas pessoas. Também sou daqueles que discutem se o golpe de Estado e o atentado contra o Estado Democrático de Direito não poderiam ser vistos como um crime só. Posso discutir a extensão das penas, mas ficou claro no julgamento que havia um movimento desde 2019 de ataque à Justiça Eleitoral, ao sistema eleitoral, de não aceitação das decisões judiciais, numa tentativa de empurrar os limites e questionar a democracia. Embora o voto dele tenha sido muito longo – e pior ainda foi o do Fux –, o voto do Alexandre de Moraes fez uma narrativa mostrando um fato atrás do outro. Mesmo que não tenha sido tão racional e planejado como ele colocou, não há dúvida de que houve um conjunto de ações, de 2019 até 8 de janeiro, na mesma linha. E isso em si era ameaça ao Estado Democrático de Direito. Não era apenas pensamento – pensar não é crime. Ultrapassou o pensamento e começou a ter atos concretos e planejamentos. Ele não foi condenado por golpe, mas por tentativa. E, no crime de tentativa, o planejamento e alguns atos preparatórios já fazem parte do crime. Então, no final, era previsível, com um conjunto de fatos mostrando que havia uma atuação coerente contra a democracia. Lembre que Bolsonaro chegou a dizer que ganhou em 2018, mas que foi roubado; que o sistema fraudou para ele não ganhar no primeiro turno. Ele começou a questionar até a eleição que ganhou, e passou o resto do tempo inteiro questionando o sistema eleitoral. Outra confusão grande, inclusive repetida por Donald Trump, é dizer que essa condenação impede Bolsonaro de ser candidato. Mas ele já estava impedido antes, por uma decisão judicial anterior, naquela entrevista no Palácio do Planalto com embaixadores estrangeiros, quando afirmou que o sistema eleitoral era fraudado. Um presidente reunir embaixadores para dizer isso é uma espécie de justificativa para o golpe. Então, mesmo que essa nova condenação fosse anulada, ele já estaria inelegível.
Tribuna – O senhor disse que poderia questionar a dimensão das penas…
Joviniano Neto – No fundamental, vou usar um ditado antigo: “Quem planta ventos, colhe tempestade”. Bolsonaro passou quatro anos plantando ventos e, no fim, colheu a tempestade. Essa tempestade pode ter atingido algumas pessoas talvez mais do que deveriam. Por exemplo, eu achei a pena do Almirante Garnier grande, porque o fato concreto foi ele dizer que estaria à disposição [do golpe]. Mas ele não tomou nenhuma atitude para colocar tropas à disposição – também não podia. Achei que a pena foi grande demais em relação a ele. Nesse processo todo, talvez pelo impacto e pelo susto que as instituições sofreram, houve uma tendência de aplicar algumas penas grandes demais, na minha visão. Mas que havia coerência na mobilização contra a democracia, havia. Assim como havia coerência em tratar esses atos como um conjunto, e não como fatos isolados.
Tribuna –Considerando a conjuntura política atual, as projeções para o ano que vem, o senhor acredita que Tarcísio de Freitas vai ser o candidato do bolsonarismo que vai disputar com Lula?
Joviniano Neto – Ele é o candidato de grande parte do empresariado, governador do maior estado do Brasil. Quando alguém é governador de São Paulo, normalmente já aparece o desejo de ser presidente. Não é o primeiro. Agora, o fato de ele ter se vinculado ainda mais a Bolsonaro é importante para garantir votos bolsonaristas, mas também pode ser usado para queimá-lo. E uma notícia que vi hoje, da pesquisa AtlasIntel, mostra Lula com cerca de 51,8%. Isso esfria qualquer candidatura presidencial, principalmente de quem tem chance de se reeleger governador. Tarcísio é um candidato forte por São Paulo, pelo apoio empresarial e da mídia, e por até há pouco tempo ter uma imagem mais moderada. Bolsonaro foi muito “boca dura”, dizia coisas difíceis de engolir. Isso pesa. Mas, de outro lado, quem é governador de São Paulo pode esperar quatro anos. Daqui a quatro anos, Lula não será mais candidato. Então, ele tem que pesar: vai para o segundo turno, ninguém duvida. Mas se Lula já aparece com 51%, 52%, o mesmo percentual da eleição passada, isso faz pensar duas, três vezes. Se eu fosse Tarcísio, jovem, com menos de 60 anos, eu preferiria terminar o mandato e ser candidato daqui a quatro anos. Para concorrer, ele teria que deixar o governo em abril, enquanto Lula não precisa sair do cargo para disputar. Isso é arriscado. Então, eu não arriscaria agora. Mas o tamanho da “mosca azul” ninguém sabe. No quadro atual, Tarcísio está em situação pior do que antes: o vínculo com Bolsonaro lhe tira votos moderados, enquanto Lula mostra recuperação de popularidade. Decidir nesse quadro é muito complicado
Fonte: Tribuna Da Bahia


