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Bancada da gangue: CBF conta com time forte no Congresso para escapar de CPIs. Veja as caras

Nesta semana, Senado deve instalar CPI da CBF, enquanto parte da Câmara torce por manobra para iniciar investigações

LEANDRO RESENDE
Menos de um ano depois dos sete gols da Alemanha que tiraram o Brasil da Copa do Mundo de 2014, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) voltou à cena para dar explicações. Nada de promessas de vitórias ou exibições de gala: na retranca, a entidade passou a semana tentando se desvencilhar das acusações de corrupção que levaram à prisão de seu ex-presidente José Maria Marin, em operação da polícia dos Estados Unidos, que atacou alguns dos principais cartolas do futebol mundial. Enquanto o Ministério da Justiça e a Polícia Federal decidem a forma de investigação dos crimes por aqui, os políticos já entraram em campo. Nesta semana, o Senado deve instalar CPI para investigar a CBF, enquanto parte da Câmara torce por uma manobra regimental para também iniciar suas investigações. No Congresso, porém, o time para defender os mandatários do futebol brasileiro é forte: a diretoria da CBF conta com oito pessoas que transitam com desenvoltura entre o mundo da bola e o da política, entre parlamentares com mandato e ex-deputados. Para evitar qualquer coisa que prejudique os interesses da Confederação, o lobby envolve a distribuição de bondades como ingressos, camarotes, chefias de delegação da Seleção Brasileira e a gestão de uma bancada própria que garante as vontades dos comandantes do esporte.

No organograma da CBF, há um cargo específico para fazer o meio-campo com os parlamentares: comandada há cerca de 15 anos pelo advogado Vandenbergue dos Santos Sobreira Machado, a Diretoria de Assuntos Legislativos é criação do começo dos anos 2000, quando o então presidente Ricardo Teixeira estava na mira de duas CPIs, uma no Senado e outra na Câmara. Figura fácil nas audiências públicas da Comissão de Turismo e Desporto (quando o assunto é futebol) e dono do pacote de ‘bondades’ distribuído a alguns deputados, Vandenbergue tem currículo extenso: foi assessor do atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e chefe de gabinete do ex-ministro da Agricultura Arlindo Porto e chegou a ser agraciado pelo ex-presidente José Sarney, em 1986, com a Ordem de Rio Branco, uma das principais condecorações oferecidas pelo governo brasileiro. Anos depois, em 2010, foi nomeado pelo ex-presidente Lula como conselheiro não remunerado da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), completando o ciclo de bom trânsito e bons contatos no Congresso e no governo federal.

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Apontado como um dos principais líderes da ‘bancada da bola’, Vicente Cândido (PT-SP) é sócio do atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero
Foto:  Reprodução

Atualmente, Vandenbergue segue afinando a sintonia entre governo e os políticos: é ele quem faz a intermediação entre a CBF e os parlamentares na hora de escolher, por exemplo, os chefes de delegação da Seleção Brasileira. Durante as administrações de Ricardo Teixeira e José Maria Marin, deputados federais foram frequentemente convidados para a função, como o ex-presidente da Câmara Marco Maia (PT-RS), em 2012. Marco Polo Del Nero, atual presidente da entidade, mudou um pouco o perfil para a primeira competição oficial desde a Copa do Mundo e chamou o empresário João Dória Jr para chefiar a delegação da Copa América neste ano.

Parlamentares ouvidos pelo DIA  — e que pediram anonimato — foram unânimes em afirmar que o auge da influência do diretor de Assuntos Legislativos da CBF teria se dado entre 2013 e 2014, anos em que foram disputadas no Brasil a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. À época, tentativas de CPI propostas pelos então deputados Romário (PSB) e Anthony Garotinho (PR) haviam sido derrubadas ainda na fase de coleta de assinaturas, e a Confederação vivia seus primeiros momentos sem a presença direta de Ricardo Teixeira nas negociações. Com a proximidade dos torneios, deputados teriam recorrido a Vandenbergue para pedir ingressos, camarotes nos estádios e até chuteiras. Em troca, apenas a exigência de apoio total em qualquer causa de interesse da CBF que entrasse em pauta no Congresso. A reportagem enviou perguntas para Vandenbergue sobre sua atuação no meio político através da assessoria de imprensa da CBF, mas não obteve resposta

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Walter Feldman largou a política, onde foi deputado federal e coordenou a campanha presidencial de Marina Silva, e atualmente é secretário-geral da CBF
Foto:  Reprodução

Com a deflagração da crise no futebol mundial a partir das prisões, o presidente Marco Polo Del Nero abandonou no meio o Congresso que reelegeu, na Suíça, Joseph Blatter como presidente da Fifa, entidade máxima do futebol. Houve quem cogitasse sua renúncia, o que até agora não ocorreu. Se tivesse ocorrido, a saída de Del Nero abriria espaço para a política entrar de vez na CBF: um dos vice-presidentes da entidade é Fernando José Macieira Sarney, filho do ex-presidente da República e que foi investigado pela Polícia Federal por crimes contra a administração pública do Maranhão em 2008. Ele está no cargo desde 2004, nomeado por Ricardo Teixeira e mantido por Marin e Del Nero. Outro vice-presidente é Marcus Antônio Vicente, deputado federal pelo PP e ex-presidente da Federação de Futebol do Espírito Santo. Completam a lista de vice-presidentes o prefeito da cidade de Boca do Mato (AL) Gustavo Feijó e Delfim de Pádua Peixoto, ex-deputado pelo extinto MDB.

Outros cargos da diretoria abrigam parlamentares. Marcelo Aro é deputado federal pelo PHS de Minas Gerais, diretor da recém-criada pasta de Ética e Transparência da CBF e diretor da Federação Mineira de Futebol.

Walter Feldman, ex-deputado e coordenador da campanha de Marina Silva à Presidência em 2014, é secretário-geral da CBF. Foi dele a primeira aparição pública de um dirigente da entidade em compromisso oficial após a prisão de José Maria Marin: na sexta-feira, após coletiva do presidente Del Nero, ele recepcionou comitivas de cidades de São Paulo na sede da Confederação.

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O deputado federal Marcus Vicente (PP-ES) é um dos vice-presidentes da CBF e saiu recentemente da presidência da Federação de Futebol do Espírito Santo
Foto:  Reprodução

Há quase duas semanas, a diretoria de Assuntos Internacionais da CBF é ocupada por Vicente Cândido (PT-SP). Dizem as más línguas de Brasília que se trata de um ‘prêmio’ para o parlamentar, que há anos atua em favor dos interesses da entidade máxima do futebol brasileiro e é apontado como uma das lideranças da chamada ‘bancada da bola’, apelido do grupo de deputados que atua em benefício dos interesses da CBF. Além disso, ele é ligado à Federação Paulista de Futebol (FPF) e é sócio de Marco Polo Del Nero num escritório de advocacia em São Paulo. O ex-deputado Anthony Garotinho, por exemplo, acusa Cândido de ter-lhe oferecido 30 ingressos para a estreia o Brasil na Copa das Confederações, em 2013. Procurado pela reportagem, Cândido informou estar “em agenda política” e não retornou as ligações.

A ‘bancada da bola’ não é nova, possui ação homogênea e fará o que for possível para tirar ilesa a CBF das CPIs que estão por vir, avaliam parlamentares que tentam investigar a entidade. Mas o momento atual, com todos os olhos do mundo voltados para a elucidação das denúncias de propina, pode dar a envergadura política que as CPIs realizadas no começo dos anos 2000 não tiveram. “Há uma dificuldade grande em fazer novos debates sobre esporte na Câmara. A bancada da bola só aparece nas audiências públicas quando temas com apelo suficiente estão em jogo, ou quando algum ministro vai nas reuniões”, opinou o deputado João Derly (PC do B – RS). Durante a semana, ele recolheu assinaturas para protocolar o pedido de CPI na Câmara e tentou convencer o senador Romário (PSB) a criar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. “Tem muita gente contrária à CPI na Câmara”, declarou.

Em 2001, a CPI que investigou a o contrato da CBF com a Nike, fornecedora de material esportivo da Seleção Brasileira,terminou sem a votação do relatório final. Obra da ação conjunta do diretor Vandenbergue Machado e da bancada da bola, liderada à época pelo então deputado federal Eurico Miranda (PPB-RJ), atualmente presidente do Vasco da Gama. O então relator da Comissão Silvio Torres (PSDB-SP) relembra. “Detectamos que a Comissão era majoritariamente formada pela bancada da bola, e o relatório não seria aprovado. A CBF montou um verdadeiro bunker em Brasília durante os trabalhos da Comissão”, comentou o deputado. “Agora, a Polícia dos EUA mostra o que todo mundo já sabia”, resumiu.

Jovair Arantes (PTB-GO) é, ao lado de Vicente Cândido, apontado como um dos líderes do grupo de deputados que atua na defesa da CBF. Em 2011,ele fez parte do tropa de choque mobilizada por Ricardo Teixeira para impedir a realização de uma nova CPI. “Ué, são deputados que gostam de futebol. Esse negócio de bancada da bola é muito pejorativo. Qual o problema? Aqui tem gente que defende o setor bancário, imprensa, os evangélicos…” explicou o deputado, que também é presidente do Conselho Deliberativo do Atlético Goianiense. Perguntado sobre a ação de Vandenbergue, Arantes despistou. “Conheço esse dirigente da CBF aqui da Câmara. Deve ser funcionário da CBF sim, já o vi em algum debate realizado aqui na Casa”, finalizou.

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Jovair Arantes (PTB-GO) criticou a expressão ‘bancada da bola’. Defendeu Ricardo Teixeira na Câmara em 2011 e é presidente do Conselho do Atlético Goianiense
Foto:  Reprodução

‘MP do futebol’ pode sair do papel

Está nas mãos do deputado federal Otavio Leite (PSDB-RJ) a Medida Provisória do governo federal para refinanciar as dívidas dos clubes brasileiros. Relator da chamada ‘MP do futebol’, o parlamentar promete apresentar um parecer preliminar sobre a proposta nesta terça-feira.

No centro da polêmica está o fato de que os times não aceitam medidas de compensação para sanear suas dívidas: pelo texto, clubes poderiam ser rebaixados se não cumprirem requisitos de transparência na gestão e no pagamento de salários a jogadores e funcionários. A antecipação do dinheiro pago pela TV, expediente comum de clubes, também seria proibida. CBF, dirigentes e ‘bancada da bola’ são contra a proposta.

“Existe sim um lobby contra as compensações. Mas o futebol brasileiro não vai sair do atoleiro sem obrigar os clubes a ter o mínimo de práticas transparentes. O futebol precisa de uma série de ajustes: se é justo encontrar uma saída para as dívidas, é correto tocar no que é mais importante para um time, que é o rebaixamento. Nenhum dirigente quer ver seu time rebaixado”, explicou o deputado.

Tramitam na Câmara e no Senado projetos de lei que tentam obrigar a CBF a ter práticas mais transparentes. Segundo Otavio Leite, o projeto da MP do futebol “foge” um pouco desta questão. Mas o clamor gerado em torno da prisão de José Maria Marin, da criação da nova CPI e do desdobramento das investigações podem funcionar como fator de pressão pela aprovação da MP. “Antes, tremores em relação a CBF eram visíveis. Agora é um terremoto de alto grau”, resumiu.

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